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Elsa Morgado - Nefrologista

Perguntas e respostas sobre rim e diabetes

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O que é a Diabetes mellitus?

A Diabetes mellitus, geralmente conhecida por Diabetes, é uma doença em que o organismo não consegue utilizar o açucar (glicose) de forma adequada para produzir energia, ou porque não produz insulina em quantidade adequada ou porque existe resistência dos tecidos à acção daquela (resistência periférica à insulina). A insulina é a hormona que regula a quantidade de açucar no sangue. Níveis de açucar elevados no sangue (hiperglicémia) dão origem ao aparecimento de doença em vários aparelhos e sistemas do organismo, nomeadamente cérebro, olho, coração e rim.

  • Licenciada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, em 1997.

 

  • Especialidade de Nefrologia de 2000 a 2004, com estágios no Hospital de Faro, no Hospital de Santa Maria, no Hospital de São José e no Hospital de Curry Cabral em Lisboa.

 

  • Assistente Hospitalar de Nefrologia no Hospital de Faro entre 2005 e 2012.

 

  • Médica Residente e subsequentemente Nefrologista desde 2004 até à actualidade no centro de hemodiálise de Faro (NephroCare-Fresenius Medical Care).

 

  • Experiência de colaboração em diversos hospitais e clínicas privados.

 

  • Experiência como investigadora em vários estudos multicêntricos.

 

  • Autora e co-autora de várias publicações na área da Hipertensão Arterial, Risco Cardiovascular, Diabetes mellitus e Doença Renal Crónica em revistas científicas nacionais e estrangeiras.

 

  • Interesse particular em Hipertensão Arterial, Risco Cardiovascular, Diabetes mellitus, Síndroma Metabólica, Litíase Renal, Doença Renal Crónica e Hemodiálise.​

Existe mais do que um tipo de Diabetes mellitus?

Os tipos mais comuns são o Tipo 1 e o Tipo 2. O Tipo 1 normalmente surge na infância e é também muitas vezes designado de Diabetes Juvenil ou Diabetes insulino-dependente. Neste tipo de Diabetes o pancreas não produz insulina suficiente às necessidades do organismo. O tratamento faz-se com insulina injectável e acompanhará o doente para o resto da vida.

 

O Tipo 2, mais comum, ocorre geralmente em pessoas com idade superior a 40 anos e é também designada de Diabetes do Adulto ou Diabetes não insulino-dependente. Neste tipo o pâncreas produz insulina mas o organismo não consegue utilizá-la adequadamente. Existe resistência dos tecidos à sua acção (resistência periférica à insulina). Neste tipo de Diabetes o tratamento passa sobretudo por alterações do estilo de vida e anti-diabéticos orais, mas em alguns casos é também necessário adicionar insulina.

O que é o Rim Diabético? O que é a Doença Renal da Diabetes? O que é a Nefropatia Diabética?

Níveis de açúcar elevados no sangue (hiperglicémia) aumentam o trabalho do rim (hiperfiltração) levando a lesão renal, também conhecida como Nefropatia Diabética.

 

A Diabetes Mellitus é a causa principal de Doença Renal Crónica com necessidade de iniciar um tratamento substitutivo da função renal (hemodiálise, diálise peritoneal, transplantação renal) no mundo ocidental no qual Portugal se inclui.

 

Quando diagnosticada precocemente a progressão da nefropatia diabética pode ser travada. É por isso fundamental a consulta com um Nefrologista no sentido de se planear uma intervenção terapêutica que vise não apenas a correcção dos níveis de açúcar no sangue mas também a protecção do rim.

Quais são os tratamentos para a Doença Renal Crónica na Diabetes mellitus?

1. Auto-cuidado e auto-vigilância

 

Os 2 factores mais importantes no tratamento da doença renal da Diabetes são o controlo rigoroso do açúcar no sangue (glicémia) e o controlo da pressão arterial. Para isso a autovigilância é essencial.

 

O doente tem de medir periodicamente a sua pressão arterial e executar o teste da glicémia capilar (picada no dedo para verificar os níveis de açucar no sangue) de acordo com a prescrição médica. Só assim se poderá verificar a existência de um bom ou de um mau controlo, e no caso deste último, adoptar medidas terapêuticas correctivas.

 

A pressão arterial tem um efeito dramático na velocidade de progressão da Doença renal. Elevações ligeiras da pressão arterial podem traduzir-se numa aceleração marcada da perda de função renal. Para controlar a pressão arterial é essencial:

  • Redução de peso;

  • Diminuição do consumo de sal;

  • Evicção do consumo de álcool;

  • Cessação tabágica;

  • Exercício físico regular.

 

2. Medicamentos

 

Quando as medidas conservadoras de controlo da pressão arterial falham (redução de peso; diminuição do consumo de sal; evitar consumo de álcool; cessação tabágica; exercício físico regular) terá de se recorrer a terapêutica farmacológica.

 

Existem várias classes de medicamentos anti-hipertensores, que reduzem a pressão arterial eficazmente e duma forma praticamente equivalente, contudo nem todos são igualmente benéficos para o doente diabético.

 

Alguns elevam os níveis de açucar no sangue e mascaram os efeitos de níveis baixos de açucar no sangue. Outros, como os IECA (Inibidores da Enzima de Conversão da Angiotensina) e os ARA II (Antagonistas dos Receptores da Angiotensina II) não só reduzem a pressão arterial como independentemente desse efeito reduzem a velocidade de progressão da função renal (capacidade de nefroprotecção), daí serem os preferencialmente utilizados pelos nefrologistas nos doentes com Diabetes Mellitus.

 

3. Dieta hipoproteica

 

Para além das restrições em hidratos de carbono (açucar) e no conteúdo de sal na alimentação, directamente implicados no controlo da Diabetes Mellitus e da Hipertensão Arterial respectivamente, a restrição de proteínas na alimentação (dieta hipoproteica) poderá diminuir a perda de proteínas pelo rim (macroalbuminúria) e assim reduzir o excesso de trabalho renal que em última análise levará à perda da capacidade de ultrafiltração e à Insuficiência Renal. Contudo, este tipo de dietas está apenas indicada em casos muito específicos pelas consequências negativas que daí poderão advir em termos de estado nutricional. Nunca inicie uma dieta hipoproteica que não seja em contexto de prescrição médica. 

Que doentes diabéticos poderão desenvolver Doença Renal Crónica?

Nem todas as pessoas com Diabetes mellitus desenvolvem doença renal. Cerca de 30% dos doentes com Diabetes Tipo 1 e 10-40% dos doentes com Diabetes Tipo 2 eventualmente desenvolverão Doença Renal Crónica.

 

O desenvolvimento da doença renal depende de factores genéticos, do controlo das glicémias e da pressão arterial ao longo do tempo. Quanto melhor o controlo glicémico e da pressão arterial menor a probabilidade de desenvolver doença renal.

Como é que a Diabetes causa lesão renal?

Na digestão dos alimentos que ingerimos originam-se nutrientes essências ao funcionamento do nosso organismo mas também produtos tóxicos do metabolismo, cuja acumulação leva ao aparecimento de sintomas. Estes produtos não chegam, contudo, a acumular-se no organismo porque o rim (quando saudável) os elimina através da urina.

 

Cada rim contém cerca de 1 milhão de unidades funcionantes chamadas nefrónios. Cada nefrónio consiste numa unidade filtradora (um “emaranhado” minúsculo de vasos sanguíneos microscópicos chamado glomérulo) conectada a uma unidade colectora (túbulos).

 

Duma forma simplista, quando o sangue passa no glomérulo os produtos tóxicos do metabolismo e excesso de líquido passam para o sistema colector onde diversas moléculas, como sais minerais e água, são adicionados ou removidos a este líquido filtrado, de acordo com as necessidades do organismo, para dar origem à urina que depois é armazenada na bexiga. Todas as outras moléculas essenciais ao funcionamento do organismo como proteínas e glóbulos vermelhos, demasiado grandes para serem filtradas, permanecem no sangue.

 

A Diabetes mellitus pode lesar todo este processo. Níveis elevados de açúcar no sangue (hiperglicémia) levam a que o rim filtre um maior volume de sangue. Este trabalho extra a longo prazo vai conduzir à existência de fugas no sistema de filtro com aparecimento de um excesso de proteínas na urina. Quando este excesso de proteínas na urina é ligeiro falamos de microalbuminuria.

 

Qunado a lesão renal causada pela diabetes (nefropatia diabética) é diagnosticada atempadamente nesta fase de microalbuminuria, ainda existe uma janela temporal para intervenção podendo-se parar ou desacelerar a progressão. Quando passamos para uma fase de macroalbuminuria (maior quantidade de proteínas na urina) muito dificilmente se consegue parar a progressão da doença para a Doença Renal Crónica e ulteriormente Insuficiência Renal Crónica Terminal.

 

A Diabetes mellitus também causa lesão dos nervos que conduzem a informação do cérebro aos diferentes órgãos do corpo. Neste contexto pode verificar-se um mau funcionamento da bexiga com esvaziamento incompleto da mesma aquando da micção que se vai traduzir num aumento de pressão no sistema urinário. Por outro lado, esta estase (estagnação) da urina propícia o aparecimento de infecções.

 

Com o tempo, este esforço suplementar de aumento de trabalho do rim causado pelo excesso de açúcar no sangue, aliado à disfunção da bexiga, leva a uma perda da capacidade de filtração e à acumulação no sangue de produtos tóxicos do metabolismo com instalação de Doença Renal Crónica que culmina na Insuficiência Renal Terminal com necessidade de iniciar um Tratamento Substitutivo da Função Renal (hemodiálise, diálise peritoneal ou transplantação renal).

Sou diabético, como posso prevenir o aparecimento de Doença Renal?

Em primeiro lugar, é fundamental manter os níveis de açúcar no sangue (glicémia) dentro dos limites normais. Em segundo lugar, controlar rigorosamente a Pressão Arterial. Existem alguns fármacos anti-hipertensores que para além da eficácia a controlar a pressão arterial apresentam também propriedades de protecção do rim.

 

É também essencial que toda e qualquer infecção urinária ou alterações do tracto génito-urinário sejam tratados ou corrigidos. Finalmente, deve-se evitar a toma (sobretudo em auto-medicação) de todos os medicamentos que possam lesar o rim, especialmente de analgésicos pertencentes á família dos anti-inflamatórios não esteróides (AINE’s).

 

Se é diabético é fundamental que consulte um Nefrologista periodicamente para monitorizar controlo de Pressão Arterial e fazer análises de sangue e urina para detectar lesão renal da Diabetes Mellitus.

Quais são os tratamentos para a Insuficiência Renal Terminal?

Nesta fase apenas os tratamentos substitutivos da função renal (hemodiálise, diálise peritoneal e numa segunda fase o transplante renal) estarão indicados. O Nefrologista é o médico indicado para ajudar o doente na escolha da modalidade de tratamento dialítico que melhor se adequa à sua situação clínica e à sua vida pessoal e profissional.

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Quais são os sintomas precoces de doença renal?

A doença renal geralmente atinge os 2 rins comprometendo a capacidade do organismo se libertar de produtos tóxicos do metabolismo e do excesso de líquidos que consequentemente se vão acumular no sangue.

 

Apesar de muitas formas de doença renal não produzirem sintomas até fases tardias, existem 6 sinais de alerta:

  1. Elevação da pressão arterial.

  2. Aparecimento de sangue ou excesso de proteínas na urina (proteinúria).

  3. Elevação dos valores da creatinina e da ureia no sangue. A ureia e a creatinina são produtos do metabolismo que se acumulam no sangue quando há deterioração da função renal.

  4. Quando a taxa de filtração glomerular (TFG) é inferior a 60 ml/min. A TGF é uma medida de função renal calculada a partir da creatinina e que leva em conta vários factores como a idade e o sexo do indivíduo.

  5. Maior frequência urinária (polaquiúria) sobretudo à noite (nictúria), dificuldade ou dor ao urinar.

  6. Inchaços (edemas) à volta dos olhos, nas mãos e nos pés sobretudo se forem mais marcados de manhã ao acordar.

Quais são os sintomas tardios de doença renal?

Numa fase mais tardia esses sintomas são os mesmos da Doença Renal Crónica avançada. Á medida que a função renal se vai deteriorando, vão-se acumulando no sangue produtos tóxicos do metabolismo como a ureia, a creatinina, o fósforo e o potássio cujos valores vão aparecendo cada vez mais elevados nos controlos analíticos.

 

Em termos clínicos, surgem anemia, perda de apetite, náuseas e mesmo vómitos com consequente perda de peso. Esta quebra do estado geral e nutricional, aliada às alterações da composição do sangue, vão conduzir a fraqueza muscular, fadiga crónica, prurido (especialmente nas pernas) e até mesmo a problemas cardíacos.

 

A maior permanência da insulina em circulação, por dificuldade de eliminação pelo rim, poderá traduzir-se numa necessidade de redução da dose a fim de se evitarem hipoglicémias (“queda de açucar”).

 

Nesta fase o doente corre risco de vida e torna-se imperativo procurar a Nefrologia para se iniciar um tratamento dialitico.

Um doente diabético pode ser submetido a transplante renal?

Sim. Quando tiver o seu novo rim vai necessitar duma maior dose de insulina. Logo à partida porque a melhoria da função renal é acompanhada dum aumento de apetite. Por outro lado, os corticóides, que são os fármacos utilizados para impedir a rejeição, não só aumentam o apetite como também aumentam de forma directa a concentração de açúcar no sangue (glicémia). Finalmente, a melhoria da função renal também significa que a insulina e seus metabolitos são eliminados mais cedo do organismo. Se (quando) o transplante renal falhar, poderá regressar à diálise.

E o transplante de pâncreas?

Em alguns doentes é possível proceder a um transplante duplo de rim e pâncreas. Trata-se duma cirurgia mais “pesada” mas é um tratamento curativo, uma vez que o doente deixa de ser diabético e de ter insuficiência renal. É claro que terá de realizar medicamentos contra a rejeição para o resto da sua vida.

 

Em Portugal este tipo de transplante realiza-se em pelo menos 2 hospitais públicos, o Hospital de Santo António no Porto e o Hospital de Curry Cabral em Lisboa.

 

O Nefrologista é o médico mais indicado para o informar sobre transplante renal e pancreático e para avaliar a sua elegibilidade para ambos os procedimentos.

Clínica Faro
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