Perguntas e respostas sobre rim e doença renal
-
Licenciada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, em 1997.
-
Especialidade de Nefrologia de 2000 a 2004, com estágios no Hospital de Faro, no Hospital de Santa Maria, no Hospital de São José e no Hospital de Curry Cabral em Lisboa.
-
Assistente Hospitalar de Nefrologia no Hospital de Faro entre 2005 e 2012.
-
Médica Residente e subsequentemente Nefrologista desde 2004 até à actualidade no centro de hemodiálise de Faro (NephroCare-Fresenius Medical Care).
-
Experiência de colaboração em diversos hospitais e clínicas privados.
-
Experiência como investigadora em vários estudos multicêntricos.
-
Autora e co-autora de várias publicações na área da Hipertensão Arterial, Risco Cardiovascular, Diabetes mellitus e Doença Renal Crónica em revistas científicas nacionais e estrangeiras.
-
Interesse particular em Hipertensão Arterial, Risco Cardiovascular, Diabetes mellitus, Síndroma Metabólica, Litíase Renal, Doença Renal Crónica e Hemodiálise.
Quem tem um risco aumentado para Doença Renal Crónica?
-
Os idosos;
-
Os diabéticos;
-
Os hipertensos;
-
As mulheres às quais foi diagnosticada hipertensão ou diabetes apenas durante a gravidez;
-
As mulheres às quais foi diagnosticada pré-eclampsia, eclampsia, proteínas na urina ou albumina na urina durante a gravidez;
-
Os portadores de doença cardíaca;
-
Os portadores de doença auto-imune;
-
Os indivíduos com familiares portadores de doença renal crónica;
-
Os indivíduos a realizar medicação cónica com fármacos/medicamentos nocivos ao rim.
Se pertence a um destes grupos de doentes deverá consultar um especialista em Nefrologia.
Qual a importância da Doença Renal Crónica?
-
Em Portugal no ano de 2012 encontravam-se em tratamento dialítico cerca de 11 200 doentes (cerca de 0,1% da população) o que representa um aumento de 18% se compararmos com 2007. De facto, os números da Doença Renal Crónica têm vindo a aumentar em todo o mundo e Portugal não constitui excepção.
-
A detecção precoce e a prevenção reduzem a progressão para Doença Renal Crónica Terminal com necessidade de Tratamento Substitutivo da Função renal, sendo por isso fundamental a consulta com especialista em Nefrologia. Mas em Portugal cerca de 30% dos doentes que iniciam hemodiálise nunca foram seguidos por Nefrologista ou numa consulta de Nefrologia.
-
A doença cardíaca é a principal causa de morte nos doentes com Doença Renal Crónica.
-
A Hipertensão Arterial é causa e consequência da Doença Renal Crónica.
-
Indivíduo em risco para desenvolvimento de Doença Renal crónica: hipertensos, diabéticos, história familiar de doença renal crónica.
-
A Taxa de Filtração Glomerular é a melhor medida para estimar a função renal.
-
Excesso de proteínas na urina (proteinúria) de forma mantida é sinal de Doença Renal Crónica.
-
Três testes simples podem detectar a Doença Renal Crónica: medição da pressão arterial, doseamento da creatinina no sangue e doseamento de proteínas numa amostra de urina.
Quais são os sintomas da Doença Renal Crónica?
A maior parte das pessoas não apresenta sintomas até uma fase avançada da doença. O diagnóstico baseado em achados laboratoriais precede frequentemente a instalação de sintomas. Contudo, o doente pode apresentar:
-
Cansaço e menor energia para tarefas anteriormente realizadas com facilidade;
-
Diminuição na capacidade de concentração;
-
Menor apetite e emagrecimento;
-
Dificuldade em dormir;
-
Cãibras musculares, sobretudo à noite;
-
Inchaços (edemas) dos pés e tornozelos, sobretudo à noite;
-
Inchaços (edemas) à volta dos olhos, sobretudo de manhã;
-
Pele seca e pruriginosa (comichão);
-
Necessidade em urinar mais frequentemente (polaquiúria), em particular à noite (nictúria).
Como se diagnostica a Doença Renal Crónica?
A detecção precoce e subsequente intervenção na Doença Renal Crónica são essenciais para evitar/desacelerar a sua progressão para Insuficiência Renal e necessidade de tratamento substitutivo da função renal (hemodiálise, diálise peritoneal e transplantação renal).
Alguns testes bastante simples poderão detectá-la:
-
Avaliação da pressão arterial;
-
Detecção de excesso de proteínas na urina. Poderá ser indicador de lesão renal. Um resultado positivo poderá dever-se a febre ou exercício intenso portanto a confirmação ao longo de várias semanas é imperativa;
-
Doseamento da creatinina numa amostra de sangue utilizando-a para calcular a Taxa de Filtração Glomerular (que duma forma simplista se pode extrapolar para percentagem de função renal);
Todos os indivíduos com risco aumentado de Doença Renal Crónica deverão submeter-se a estes testes simples.
E se os resultados das minhas análises mostrarem alteração da função renal? Vou ter de fazer diálise?
É importante procurar uma consulta com um especialista de Nefrologia que numa perspectiva de melhor caracterizar a sua situação clínica poderá:
-
Comparar estes resultados com anteriores para verificar se se trata duma situação de Doença Renal Crónica ou de Lesão Renal Aguda, uma vez que a marcha diagnóstica e o planeamento do tratamento são completamente diferentes;
-
Se se confirmar a existência duma Doença Renal Crónica poderá calcular a sua Taxa de Filtração Glomerular (TFG) para verificar em que estádio de Doença Renal Crónica se encontra e assim planear o tratamento e seguimento em consulta;
-
Poderá requisitar exames de imagem renal que não apenas caracterizam a localização, o tamanho, a forma e o aspecto do tecido renal, como poderão identificar ou excluir lesões obstrutivas como cálculos renais (“pedra” no rim), tumores ou aumento do tamanho das dimensões da próstata (hiperplasia/hipertrofia benigna da próstata) contribuindo assim para a distinção entre Doença Renal Crónica e Lesão Renal Aguda e para o estabelecimento do estádio de Doença Renal Crónica.
-
Poderá executar uma biópsia renal em contexto de suspeita de doença renal intrínseca (glomerulonefrites) ou de envolvimento rim por doenças sistémicas auto-imunes como o Lupus Eritematoso Sistémico e as vasculites. O exame anátomo-patológico (recorrendo a microscópio) do fragmento de tecido renal colhido, para além da identificação da causa, permite caracterizar a magnitude de atingimento do rim e o grau de cronicidade fornecendo assim informações preciosas ao estabelecimento do tratamento. A biópsia renal é normalmente executada em contexto de internamento em hospital.
O facto de apresentar algum tipo de doença renal mesmo Doença Renal Crónica não significa que automaticamente tenha ingressar num tratamento dialítico (hemodiálise ou diálise peritoneal).
Existe um tratamento eficaz para a Doença Renal Crónica?
Muitas doenças renais podem ser tratadas com sucesso, como por exemplo as infecções urinárias e os cálculos renais ou litíase renal (vulgo “pedra” no rim).
A monitorização e controlo rigorosos da Diabetes mellitus e da Hipertensão Arterial poderão prevenir o aparecimento da Doença Renal Crónica assim como a sua progressão.
Contudo, existem algumas causas de doença renal para as quais o tratamento ainda não está bem estabelecido ou disponível podendo a doença renal evoluir para a cronicidade e a Insuficiência Renal Terminal com necessidade de iniciar diálise. Neste contexto é de particular importância o seguimento em consulta de Nefrologia ou por Nefrologista para nos assegurarmos que a progressão ocorre da forma mais lenta possível.
Existem alguns medicamentos que retardam a progressão da doença renal e é essencial que os doentes nestas condições os façam.
Como é que é tratada a Falência/Insuficiência renal ou Doença Renal Crónica Terminal?
A Falência/Insuficiência Renal ou Doença Renal Crónica Terminal é tratada através dos tratamentos substitutivos da função renal: hemodiálise, diálise peritoneal e transplantação renal.
A hemodiálise recorre a uma máquina com filtro (“rim artificial”) e é realizada 3 vezes por semana numa unidade de diálise. No Algarve existem 4 unidades de diálise, uma hospitalar no Hospital de Faro e 3 privadas, convencionadas com o Sistema Nacional de Saúde português e gratuitas para o doente. Estão localizadas em Faro, Portimão e Tavira. A hemodiálise em casa (diálise domiciliária) ainda não está muito difundida em Portugal, mas já está disponível no Algarve. A Diálise Peritoneal é realizada diariamente em casa.
O Nefrologista é o médico indicado para ajudar o doente na escolha da modalidade de tratamento dialítico que melhor se adequa à sua situação clínica e à sua vida pessoal e profissional.
A transplantação renal é o melhor tratamento substitutivo da função renal e Portugal é um dos países da Europa com melhores resultados em termos de números e sucesso dos transplantes. Os rins podem ser provenientes de alguém que faleceu ou de um dador vivo. Muito recentemente, Portugal alargou aos cônjuges a possibilidade de se tornarem dadores.